Sentado sobre o tronco seco de uma árvore, o velho pescador meditava sobre o seu futuro. Sabia que lhe restava pouco tempo de vida, e todos os esforços para conduzir seu único filho por aqueles que lhe pareciam ser os caminhos corretos tinham sido em vão, pois o interesse dele estava na busca dos prazeres do mundo.
Vendo o tempo passar e, dia após dia, essa situação persistir, certa noite o velho pescador pediu aos céus que lhe fosse indicado o que fazer.
Aconteceu então que, ao clarear o dia, seu filho pediu-lhe para com ele ir pescar. O que insistentemente o velho pescador durante anos procurara parecia agora acontecer como por milagre. Cheio de contentamento, preparou o barco e saiu com o filho rumo às águas mais profundas.
Entretanto, uma repentina tempestade sobreveio, e ventos muito fortes levaram o barco para regiões desconhecidas. Quando ela cessou, encontraram-se em águas claras e transparentes, e o barco aproximava-se de uma ilha de areias muito brancas.
Tomado de gratidão por estarem a salvo, o pescador saltou e em terra firme, de joelhos sobre aquelas finas areias, pediu aos céus que os mandassem de volta à sua casa, pois — no seu entender — lá teriam ainda coisas a cuidar.
Terminada a prece, voltou os olhos para o filho, que permanecera no barco; mas tanto o jovem quanto o barco haviam sido levados pela maré.
Cheio de desânimo, o pescador pôs-se a chorar, sem compreender a razão de tudo aquilo. Surgiu então à sua frente um grande pássaro que, se transformando em um anjo, lhe disse:

Não podeis com a vossa vontade e o vosso desejo traçar os caminhos de outro. Cada um a um mundo pertence. Os passos dados confirmam a meta, as escolhas e as trilhas a serem percorridas. Vosso filho seguiu para as terras que lhe correspondiam, e você os fostes colocados naquela que vos corresponde. Aqui tereis frutos para saciar vossa fome e encontrareis aqueles que, convosco, trilharão a mesma senda.

Do livro: Viagem por mundos sutis. José Trigueirinho Netto.