Qual será a solução para o cultivo de árvores em áreas urbanas?

As árvores urbanas são como crianças de rua. E, para muitas, essa denominação cai como uma luva, pois estão plantadas perto de ruas. Nesse caso, as primeiras décadas de vida são muito parecidas com as das árvores de parque. Recebem carinho e cuidado e às vezes são até regadas por um sistema próprio de irrigação.

No entanto, quando a raiz quer continuar se expandindo, a árvore sofre seu primeiro baque, pois o solo sob a rua ou calçada é ainda mais duro que o dos parques, porque foi compactado por máquinas. Para a árvore isso é um problema, pois as raízes das árvores de florestas não se aprofundam muito. Com isso, raramente uma espécie passa de 1, 5 metro, e na maioria das vezes é bem mais raso.

Na floresta esse problema não existe, afinal a árvore consegue se expandir de forma quase ilimitada. Mas á margem de uma rua não é o que acontece, a calçada limita o seu crescimento, e tubulações cruzam o subsolo compactado. Por isso, não é de se estranhar que nesses locais sempre haja problemas com árvores: plátanos, bordos e tílias tendem a se enfiar nas tubulações de água. Só percebemos que o sistema de escoamento sofreu avarias durante uma tempestade quando a rua alaga. Um técnico então vai ao local e usa sondas para descobrir qual árvore está causando o problema.

A culpada é condenada à morte – a árvore é derrubada e sua sucessora é plantada no mesmo lugar, mas suas raízes são embarreiradas, por isso ela é impedida de imitá-la.

Mas por que as árvores crescem justamente para dentro do encanamento?

Por muito tempo os engenheiros pensaram que as raízes eram atraídas pela umidade que vaza pelos encanamentos mal vedados ou pelos nutrientes nos efluentes sanitários. No entanto, um grande estudo da universidade de Ruhr, em Bochum, na Alemanha, chegou a resultados bem diferentes. Quando entrava no cano, a raiz ficava acima do nível do cano e não parecia interessada nos fertilizantes. Na verdade, ela buscava o solo mais solto, arenoso, que não havia sido bem compactado.  Quando o encontra, a raiz pode respirar e tem espaço para crescer. As raízes entram por acaso nas vedações entre os trechos de encanamento e ali acabam se desenvolvendo.

Isso significa que, quando uma árvore em área urbana encontra terra tão dura quanto concreto, desespera-se e tenta expandir as raízes onde a terra não foi bem compactada. Nesse momento elas se tornam um problema para o homem. Só uma forma de evitar que as raízes invadam o cano: compactar bem a terra a seu redor.

Numa situação dessas, é natural que tantas árvores caiam durante tempestades de verão. Na terra compactada das cidades o sistema de ancoragem subterrânea (que na natureza pode se estender por mais de 700 metros quadrados) é insignificante. Sua superfície é tão reduzida que não suporta o peso de um tronco de muitas toneladas.

Além de tudo isso, as árvores urbanas não podem contar com a ajuda de muitos colaboradores que cuidam de seu bem-estar na floresta (como microrganismos que decompõem a matéria orgânica, transformando-as em húmus). Suas raízes têm poucos fungos para ajudá-las na coleta de água e nutrientes.

Como se tudo isso já não bastasse, também tem que lidar como “fertilizantes não solicitados”, sobretudo de cães, que para demarcar território erguem a perna em cada árvore que encontram, mas acabam queimando o tronco e podem até matar a raiz com sua urina.

A vida secreta das Árvores.

Peter Wohlleben.