As situações que chamamos de imprevistos, de acasos, de fatalidades, só acontecem em nossa vida porque, em geral, temos sempre um objetivo pré-definido e, se nos desviamos da rota por algum motivo, fracassamos em cumprir esse objetivo.
Ex.: durante uma viagem, você decide pegar o trem das 11h; mas por algum motivo qualquer, se atrasa para chegar à estação e acaba perdendo esse trem. Pois é, que falta de sorte, foi um imprevisto. Agora, quando você não tem nenhum objetivo específico, a não ser a própria viagem em si, não tem como se desviar do caminho. Quando não está preocupado com nenhum trem em particular, não tem como perder o trem.
Acasos e fatalidades só acontecem em nossa vida porque, no fundo, sempre queremos que ela seja de determinado jeito, que tudo aconteça de acordo ao planejado – mas, de repente, algo sai errado, aparece algum impedimento, algum obstáculo, acontece alguma coisa que não estava nos planos. Queríamos que as coisas fossem diferentes, mas a vida revela o contrário – é por isso que acontecem os chamados acasos.

“Passou o tempo em que me podiam suceder acasos”. Zaratustra.

Nada mais pode ser um acaso ou fatalidade para mim, pois aceito todas as coisas como são. O próprio imprevisto para mim, é uma coisa perfeitamente boa. Se eu estiver seguindo por um caminho, ótimo; se me desviar desse caminho, está ótimo também, eu não tinha nenhum objetivo específico mesmo.
Realmente, isso é algo da mais absoluta profundidade um ser que pode chegar a uma concordância tão grande com a vida – não importa o que aconteça, essa é a coisa certa; aconteça o que acontecer é isso que ele estava querendo. Não existem acasos, imprevistos, fatalidades. Ele aceita todas as coisas, assim como elas são.
Transcender os acasos significa que se chegou a um acordo profundo com a existência. A partir daí, não há mais possibilidade de fracasso, nenhuma frustração é possível. O seu silêncio e a sua serenidade não podem ser perturbados.
Buda nomeou esse estado de concordância como a experiência da “aceitação daquilo que é”. Diante de qualquer situação, não importa qual seja o acontecimento, ele diz: “Tal é a natureza das coisas”.
A vida sempre é bondosa, a existência sempre é compassiva, pois, não importa o que aconteça, é assim que tinha que ser. Não tem nenhum outro desejo senão a própria vida.
Trecho do livro: Assim falou Zaratustra, de Nietzsche.